quarta-feira, abril 30, 2014

Maria Modelo de fé e de Igreja


Frei Gustavo Medella

Vivemos uma época em que estamos carentes de modelos. E não faço esta afirmação de modo moralista, dizendo que “antigamente sim era bom, havia mais respeito, mais honestidade, mais fé”. Não… Digo isto pensando nos valores que permeiam a vida contemporânea, no modo pelo qual somos treinados para observar e apreender a realidade. E quer saber qual é este modo? Basta vermos cinco minutos de televisão, ou passearmos apenas por uma das galerias de qualquer shopping center. Estamos no mundo do veloz, do brilhante, do colorido, do passageiro, da sede pelo novo, pelo mais atualizado, conforme os Titãs satirizam quando cantam: “A melhor banda de todos os tempos da última semana. O melhor disco brasileiro de música americana”.

E neste turbilhão de informações, onde o que era ontem já não é mais hoje,  temos dificuldade em contemplar aquilo que não passa, que pode nos orientar, nos apresentar o caminho da felicidade e do equilíbrio.

Penso eu que, também por essas carências, uma figura como o Papa Francisco esteja atingindo o coração de tantas pessoas, até mesmo não católicas. Ele vem preencher a lacuna de uma sociedade carente de pai, carente de afeto, de contato, de abraço, de beijo. Em cada criança que o Santo Padre beija ou afaga, ele afaga milhões de crianças de todas as idades, também aquela criança que trazemos em nosso coração e que anda perambulando a procura de colo, carinho e afeto. A criança a que Jesus pede que nos tornemos para entrarmos no Reino dos Céus.

E Maria, figura central da nossa fé, é modelo inquestionável e sempre atual para nossa vida cristã e até mesmo para aqueles que não partilham da mesma fé. Destaco o testemunho do escritor Herman Hesse, falecido em 1966 e Prêmio Nobel de Literatura: “O que não creio sejam capazes Santo Antônio e Santo Inácio, creio que o seja a Virgem, isto é, que nos compreenda e nos admita a nós, os hereges”. O homem pode abandonar tudo, mas a última coisa que abandona é a mãe. Maria é mãe também dos que não percorrem o caminho da fé. Olhando para ela, a Igreja, como mãe, também se sente impulsionada a ir ao encontro da humanidade, numa postura de escuta, diálogo e serviço.
Maria, “Virgem-Mãe” sintetiza a nossa fé em Cristo “Homem-Deus”. A virgindade de Maria é sinal da divindade de Cristo, nascido do Espírito Santo. E a maternidade da Virgem é sinal da humanidade do Filho de Deus. Ela é a síntese da fé cristã e, segundo o Teólogo Bruno Forte, Maria está toda dentro da História da Salvação, e, a História da Salvação, toda dentro dela. Se Jesus é o Centro da fé cristã, Maria é Central nesta mesma fé, pois é a pessoa mais próxima do Centro, como mãe e cuidadora de Jesus.

E deste mistério decorrem os belos títulos que nosso povo canta com afeto e paixão na Ladainha de Nossa Senhora, conforme nos descreve o teólogo Clodovis Boff. Se Jesus é Filho do Homem, Maria é Mãe do Filho de Deus; se Jesus é Deus, Maria é Santuário da Divindade; se Jesus é o Caminho, Maria é a indicadora do Caminho; se Jesus é a Verdade, Maria é testemunha da Verdade; Se Jesus é a Vida, Maria é Fonte de Vida; se Jesus é a Sabedoria, Maria é a Arca da Aliança; se Jesus é o Fruto que alimenta, Maria é a Árvore da Vida.

E Maria, modelo de fé, não poderia deixar de ser Modelo de Igreja. De maneira que, ao sonharmos com uma Igreja Serva, Companheira e Mãe, não podemos deixar de olhar com atenção para a Virgem de Nazaré.

“Eis aqui a Serva do Senhor, faça-se em mim segundo a vossa Palavra”, disse Maria ao anjo, conforme nos conta São Lucas em seu Evangelho. Ao se colocar a serviço sem reservas, Maria sabe da responsabilidade que assume. Deixa de olhar somente para si e para os próprios interesses e contempla um horizonte bem mais amplo, um projeto amoroso e abrangente de salvação. Eis aqui a Serva do Senhor, eis aqui uma grande provocação para nós enquanto Igreja: sairmos de uma postura autorreferencial, contemplarmos o horizonte do mundo que nos desafia, sem medo de nos colocarmos a serviço, com humildade, ao modo de Jesus no Lava-Pés. Ali o Senhor demonstrara que, desde o berço, aprendera direitinho a lição de amor-serviço ensinada por sua querida Mãe.

Maria Companheira, aquela que coopera com a obra da Redenção. Companheiro é também aquele que partilha o Pão, que come junto, à mesa, num espaço de proximidade e intimidade. A Igreja, Companheira, reparte o Pão da Vida, na Mesa da Eucaristia. Reparte o pão com todos, em especial com os mais pobres. Olhando para Maria, a Mãe do Pão, a Mãe que parte o Pão, somos incentivados a repartir o Pão com a humanidade, e repartir e comer junto, participar da vida e dos dramas humanos. Companheira Maria, mãe de uma Igreja Companheira.

Maria Mãe, modelo de uma Igreja Materna, que pense nas necessidades dos Filhos, que apresente estas necessidades ao Pai, que cuide, olhe, oriente, ame. “Imaculada, Maria de Deus, coração pobre acolhendo Jesus, Imaculada, Maria do Povo, Mãe dos aflitos que estão junto à cruz”.

Que Maria, Modelo de Fé e Modelo de Igreja, nos ajude a chegarmos cada vez mais perto do Cristo, de quem ela esteve sempre tão próxima! “Rogai por nós, Santa Mãe de Deus! Para que sejamos dignos das promessas de Cristo!”


Fonte do texto: http://www.franciscanos.org.br/?p=57698
Fonte da imagem: http://cleofas.com.br/wp-content/uploads/2013/12/nossasenhoradefatima1.jpg

Paz e bem!!!

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